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Preço x Valor

Ilustração: Claudia Liz

A arte não tem preço, e a importância de uma obra é você quem dá. Pode ser um van Gogh ou o quadro pintado pelo seu filho. A afetividade transpõe valores e conceitos preestabelecidos.

Em decorrência das nossas próprias sequelas culturais, o termo “popularizar” tomou uma conotação banal, como se estivéssemos expondo algo corriqueiro e sem critérios. Por vezes preferimos “democratizar” para chegarmos no entendimento real da acessibilidade. As crises trazem oportunidades, quer sejam pelo fato de sairmos da nossa zona de conforto em busca da continuidade do mesmo conforto, quer nas reflexões particulares em torno do valor e da importância daquilo que nos cerca. Chegamos num limite explosivo e agora, aos poucos, vamos nos desvinculando dos conceitos previamente atribuídos e passamos a dar uma importância maior ao que está a nossa volta e que cabe no nosso bolso.

Inspiração criadora e criativa

 

Nascida exatamente um ano após o lançamento do satélite soviético SPUTNIK 1, no auge da corrida espacial, o cativante universo pop da artista gaúcha Maria do Carmo Verdi tem forte influência da cultura dos anos 60. Lecionou na Universidade de Caxias do Sul, mudou-se para São Paulo e dedica-se, desde então, a investigação e produção em seu ateliê, desenvolvendo uma obra singular.

A Guerra Fria e sua corrida espacial, filmes de ficção científica como “2001: Uma Odisseia no Espaço” (e, posteriormente “Star Wars”), as missões exploratórias da NASA, os cartoons futuristas dos “The Jetsons”, “Thunderbirds” e “National Kid”, séries televisivas como “Viagem ao Fundo do Mar”, “Perdidos no Espaço” e “Jornada nas Estrelas” – todo esse caldo de referências não passa despercebido na construção de sua obra.

A partir da paisagem lunar do deserto chileno e da apropriação de formas elementares trabalhadas e reestruturadas com o auxílio de exercícios de análise combinatória e traduzidas em “personagens”, ela desenvolve a construção de suas paisagens ficcionais retratando a contemporaneidade correlata. Imersa nesse rico repertório, sua obra, repleta de cor, luz e textura, nos conquista por seu estranhamento. A seguir, nosso bate-papo com a artista:

Maria do Carmo Verdi apresenta suas pinturas e esculturas

NL – Seus trabalhos são vibrantes, com um colorido e texturas hipnotizantes. Como você explica sua obra?

MC – Faço pinturas, crio objetos, trabalhei com têxteis e faço uso de recursos digitais. Trabalho regularmente, acredito em processo e baseio minha produção nesta crença faz muitos anos. Optei por não atribuir ao acaso ou à inspiração a produção da minha obra, mas sim ao trabalho sistemático. Ao longo dos anos alcancei esta plasticidade e a cor, para mim, é um elemento fundamental para a formação do sentido. 

 

NL – Como se dá a inspiração para criação da simbologia das formas e dos personagens que figuram nas suas composições?

MC – Minha geração presenciou das primeiras idas ao espaço, do início da televisão e do surgimento do computador até o que temos hoje; um mundo onde a tragédia e a comédia estão expostas ao vivo, em tempo real, para uma rede incontável de indivíduos. Tudo nos chega, velozmente, pela televisão e pela internet: terrorismo, miséria, riqueza, corrupção, intolerância, solidariedade. Vivenciamos “online” e “ao vivo” acontecimentos importantíssimos como desastres sociais (como o êxodo dos refugiados da Síria e África) e ambientais (como a tragédia de rompimento da barragem de Fundão em Minas Gerais quando uma onda de lama tóxica varreu a cidade de Bento Rodrigues causando total destruição), imersos numa sociedade do espetáculo. Pessoalmente, isso tudo se realiza como uma espécie de caleidoscópio mental, permanentemente alimentado pelo meu próprio trabalho, pelo que aconteça no mundo, o que vejo, leio e vivo. A observação da realidade me mobiliza a criar estes personagens, paisagens e universos que, no momento, são reflexões que se materializam como pinturas e objetos tridimensionais (cakes e altos-relevos).

Obra: Os Sete Pecados

NL – Quais são as suas principais influências?
MC – Uma lista enorme! Posso citar Kandinsky, Klee, Max Ernst, Marc Chagall, Glauco Rodrigues, arte Maya, a gravura Japonesa (em especial a de Hokusai), as catedrais Góticas, Frida Kahlo, Miró e ainda muitas das séries de TV dos anos 60 como “Nacional Kid”, “Os Vingadores do Espaço”, os fantásticos “Thunderbirds”, “Túnel do Tempo”, “Jeannie é um Gênio”, “Perdidos no Espaço” além de filmes como “2001 Uma Odisseia no Espaço”! São muitas influências e referências, acho que sou um mix da cultura “pop sideral” dos anos 60 com uma boa dose de surrealismo.

NL – Como você enxerga o comércio da arte? É possível viver de arte no Brasil?
MC – Sim, é possível viver de arte no Brasil pois existem pessoas que vivem! É fácil? Claro que não! E não deve ser fácil em nenhuma parte do mundo. O desafio é buscar espaço no mercado sem perder a originalidade. Aliar-se à profissionais preparados para a complexidade deste ambiente é fundamental. De forma geral, o comércio de arte no Brasil é um pouco restrito a um público de renda mais alta. Há gente como meu galerista, o Felipe Senna, repensando isso e se posicionando de forma a agregar interessados e novos colecionadores ao circuito das artes, muitas vezes avesso a não iniciados, com propostas de valores razoáveis e sem perder o cuidado com a qualidade dos trabalhos.

NL – Seus trabalhos resultam de um método e de pesquisas profundas. Qual sua opinião sobre o uso da arte para fins decorativos?
MC – Um quadro, uma escultura, uma performance, seja lá o suporte que for, só se completa enquanto obra de arte quando é usufruída. Independentemente de onde isso aconteça. Apenas precisa acontecer! Pode ser na rua, dentro dos museus, em galerias ou intimamente na casa das pessoas. Quanto mais as pessoas queiram ter em torno de si objetos que lhes suscitem prazer e/ou reflexão a um nível íntimo e enriquecedor, melhor. Ver ou saber de algum dos meus trabalhos na casa de alguém é sempre motivo de alegria.

Projeto Jardins II / Suíte Principal / Quadros MCarmo “Paisagens Ficcionais”

NL – Como você entende a democratização da arte? 

MC – Acho que essa discussão é uma questão muito mais geral que engloba a educação em si. Formar indivíduos capazes de pensar o mundo produzindo ciência e produzindo arte. Aí está a verdadeira democratização da arte – no âmbito do fazer. Pensando assim temos um longo caminho pela frente.

 

NL – Com toda a bagagem que você traz em sua carreira, qual seria a sua orientação para quem está começando?  

MC – É uma profissão como qualquer outra. O crescimento depende de extrema dedicação, estudo e não se limita à prática do atelier. Envolve o mercado de arte e seus atores. Não existe uma fórmula para o sucesso, cada artista constrói o próprio caminho, mas uma coisa é certa, o trabalho dentro do atelier é só a ponta do iceberg.

Série “A Grande Onda Tóxica”

Conheça mais do trabalho dessa artista no Instagram @mcarmoverdi e através do seu galerista exclusivo Felipe Senna @_fsenna_ / f.senna@icloud.com

Valorizando um quadro na sua decoração

Projeto Jardins I / Sala de estar - ao fundo, painel de Adrianne Galinnari / Foto: Evelyn Muller

O primeiro passo é definir qual será a parede trabalhada. O ideal é que tenha boa visibilidade da entrada do ambiente e uma iluminação adequada que valorize a obra. Leve em consideração o revestimento – paredes com muita textura (tijolinho, mosaico, pedras, estampas) podem dificultar a visibilidade e comprometer o resultado final, assim como a incidência de luz solar diretamente sobre o quadro poderá desbotá-lo.

Escolhida a parede, analise o tamanho da obra mais adequado. Paredes maiores pedem obras grandes ou composições com mais de uma peça.

O estilo da obra deve dialogar com os móveis e adornos do ambiente (moderno, clássico, barroco). Uma ou outra peça contrastante pode “roubar a cena”, mas misturar muitos estilos pode deixar o ambiente confuso, cansativo e sem personalidade.

– Quadros pequenos devem ser dispostos em locais que permitam a aproximação. Eles criam um visual harmônico quando concentrados em apenas uma parede ao invés de espalhados pelo ambiente.
– Para que os quadros grandes assegurem um ar mais despojado ao local, apoie em mesas, bancos, aparadores ou mesmo no chão.

A vez da moldura

Ela é responsável pelo acabamento do quadro, mas nem sempre o quadro pede um acabamento.

– Pinturas menores precisam ser expostas com complementos no intuito de ampliá-las, então o paspatur (espaço entre a obra e a moldura) pode ser um grande aliado na valorização da obra;
– Pinturas maiores, como painéis, geralmente dispensam molduras, especialmente quando as laterais também são pintadas. Se for de sua preferência opte por molduras finas e claras.

E lembre-se sempre: a moldura deve combinar com o quadro, e não com a decoração!

Projeto Butantã / Acervo de telas, gravuras e ilustrações na sala de estar / Foto: divulgação

Ficamos por aqui. Até a próxima!