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Quando menos é mais!

Quando menos é mais!

Ilustração: Claudia Liz / Fotos: Evelyn Muller

Como lidar?

Hoje em dia a procura por imóveis pequenos tem sido o foco de muitas pessoas, visto as possibilidades de mobilidade e praticidade nas rotinas. Na coluna dessa semana vamos entender que morar bem não tem relação alguma com espaços amplos ou grandes investimentos na decoração. Vamos esmiuçar meu projeto no bairro de Moema, em São Paulo, numa área total de 38m2 que atendeu a um jovem casal carioca: ele chef de bistrot e ela estudante de publicidade. Ambos recém-chegados na capital paulistana, adoram cozinhar e amam os prazeres da mesa. Saudosistas, pediram que o projeto refletisse cores e aspectos da cidade maravilhosa, mas sem exageros! Então apostei no mobiliário planejado para otimização do espaço restrito: muitos armários, cama com baú e prateleiras de sobra na cozinha para armazenar um verdadeiro arsenal de utensílios gourmet. A sacada externa foi fechada com cortina de vidro para acomodar um ambiente de jantar. O ladrilho hidráulico no chão compôs muito bem com a mesa de madeira de demolição e as cadeiras em acrílico trouxeram o equilíbrio. A atmosfera carioca foi traduzida no conjunto de fotografias emolduradas na parede, além de pequenos adornos arrematados pelas cores azul e laranja.

Decisões importantes

Num projeto de decoração, é preciso entender o modo de vida dos moradores: características pessoais, necessidades especiais, paleta de cores possíveis e o mais importante: o orçamento disponível para obra e decoração. Desde a sua concepção, tudo deve ser proporcionalmente dimensionado, afinal de que vale investir num porcelanato exclusivo se não houver recurso para uma boa marcenaria posterior?
Algumas soluções são bastante estratégicas para minimizar sensações de desconforto num ambiente pequeno. Vejam as dicas:

– Parede em dry wall para divisão da cozinha e sala de TV. A existência de cômodos distintos pode ser uma alternativa interessante.
– Prateleiras substituem armários fechados, ampliando os campos de visão.
– Fechamento da sacada com cortina de vidro possibilita a integração de um novo ambiente. Nesse projeto, adotei uma mesa com 4 cadeiras.

– Cama box com baú inferior acomoda itens volumosos e de pouco uso.
– Armários com portas de correr e puxadores discretos não atrapalham a circulação.
– Espelhos na parede ou porta dos armários conferem sensação de profundidade.

– Diferentes cores na parede e marcenaria delimitam os espaços com elegância.
– O painel de madeira ao fundo ainda cumpre as funções de cabeceira da cama e estrutura para criado mudo.
– A disposição de quadros e adornos na parede complementa a definição dos ambientes do quarto e sala.

Entrevista concedida para a revista MENSCH

No final do ano passado, conversei com André Porto, editor geral da revista MENSCH, justamente sobre a tendenciosa busca por soluções menores para se viver. Acompanhem o nosso papo:

AP – Esse projeto de Moema, com 38 metros quadrados mostra uma tendência na escolha para morar. Antes a procura por esse tipo de espaço era para solteiros. Isso está mudando. Os casais estão optando por espaços menores?
NL – Essa tendência é muito marcante nas grandes cidades, e as construtoras perceberam a necessidade do acolhimento de jovens vindos de fora para estudar ou trabalhar. Com o passar do tempo, esses empreendimentos foram tomando formas mais atrativas, incorporando na sua estrutura serviços customizados como manobrista, lavanderia coletiva, academia, concierge, espaços gourmet, piscinas aquecidas… e essas iniciativas chamaram a atenção dos casais sem filhos. Em tempo, esses imóveis também são os preferidos dos investidores, já que os valores de compra e o giro tanto para locação quanto venda são bastante atraentes.

AP – Na sua maioria os clientes atribuem a escolha por essa metragem por conta da crise ou da praticidade?
NL – Os valores desses imóveis são interessantes, mas não necessariamente baixos. Busca-se atender um determinado nicho que preza por um certo requinte com praticidade. Em muitos casos, os moradores já possuem um outro imóvel numa outra localidade, e a busca por essa solução vem para substituir os tradicionais flats, por vezes caros e impessoais.

AP – Nesse projeto os donos já tinham ideia do que queriam ou você teve que trabalhar todas as ideias?
NL – Foi um verdadeiro “namoro”. Vivi 11 anos no Rio de Janeiro, onde fiz vários amigos e conheci muita gente. O casal que me procurou nesse projeto veio de lá, e foi justamente para preencher a lacuna que os cariocas usualmente sentem quanto chegam na “terra da garoa”. A necessidade de resgatar as origens é um ponto de partida importante em qualquer projeto.

AP – Como acontece a “criação” do designer de interiores junto ao cliente que não sabe exatamente o que quer?
NL – Uma espécie de anamnese faz parte do escopo. Cativar é parte do processo. Habilidades interpessoais são requeridas do profissional de interiores – estabelecer um clima de confiança é fundamental; num simples bate papo tenho que captar as necessidades, expectativas e valores de cada cliente. Parto sempre da premissa de que não existe bonito e feio: o que é importante para mim, pode não ser para o outro, e vice-versa.

AP – Tudo tem que caber dentro do orçamento do cliente. É possível hoje fazer mais com menos?
NL – O grande desafio nessa profissão seria atender as expectativas – é preciso conhecer desde a peça mais imponente até a solução mais estratégica. Transitar com naturalidade entre uma obra de arte e uma gravura emoldurada é a grande sacada. Produzir um ambiente é relativamente fácil, mas é no encanto e na transformação que está o fio da meada. Esse projeto do estúdio é um bom exemplo: utilizei de diversos recursos alternativos sem abrir mão dos critérios demandados pelos clientes. A vida se torna mais simples quando nossas crenças e tradições são preservadas.

Outras fotos e informações desse projeto estão no site www.newtonlimainteriores.com.br

Nos vemos na próxima!

Ate lá!